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domingo, 8 de agosto de 2010

Velho homem

Hoje é um dia muito feliz, embora, para alguns seja triste também, dia dos Pais. Aquele homem que representa a força, honradez e moral cível dentro do lar. Não merece ser bendito apenas um dia ao ano, todavia ser valorizada cada uma de suas lições e palavras. Dessa forma, Neruda soube catalisar o que um pai (unidade) significa para um primogênito.

O Pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.


Pablo Neruda, in Crepusculário

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