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terça-feira, 2 de março de 2010

Um nobre imortal, esquecido

Hoje, abordo um autor pouco citado nas rodas de amigos, na universidade e nas bibliotecas onde é dificilmente procurado: Fagundes Varella. Um imortal, poeta, boêmio e ótimo escritor. Fagundes, advindo de família rica, nasceu em 1841, no Brasil e iniciou seus trabalhos como poeta durante a segunda geração romântica (Byroniana). Em sua época, Fagundes era venerado como um dos maiores expoentes do romantismo platônico aqui no Brasil, sendo natural de Rio Claro no Rio de Janeiro, todavia sucedeu em Niterói.
Assim, naturalmente, ingressou na Universidade de São Paulo no curso de Direito (Largo do São Francisco) e logo, devido a sua transitoriedade e inquietação, transferiu-se para Universidade de Direito em Recife. Entretanto, abandonou o curso em seu quarto ano, alegando não ter a devida vocação para exercer a profissão, dedicou-se apenas à boêmia e à arte poética. Certamente noviço, casou-se aos vinte anos e teve um filho, que logo após o terceiro mês de vida, faleceu. Daí em diante, o sofrimento poético tomou conta de Fagundes Varella, que se entregou à bebida e à poesia.
Contudo, casou-se novamente com outra mulher e teve outras três crianças em um casamento com uma prima. Infelizmente, uma das crianças morreu aos onze anos e assim, Fagundes refugiou-se no campo e não voltou mais. Entregue às enfadonhas tristeza e ao álcool, ele viveu no campo com o dinheiro que seu pai lhe dava e escrevendo morreu prematuramente também, aos trinta e três anos.
Postumamente, recebeu o título de imortal, cedido e instanciado por Lúcio de Mendonça, ocupa o lauro de patrono da cadeira de número onze na Academia Brasileira de Letras, tendo seu busto ornado no silogeu brasileiro.
Despeço-me com a poesia ''Ideal'' desse nobre imortal:

Ideal - Fagundes Varella


Não és tú quem eu amo, não és!
Nem Teresa também, nem Ciprina;
Nem Mercedes a loira, nem mesmo
A travessa e gentil Valentina.

Quem eu amo te digo, está longe;
Lá nas terras do império chinês,
Num palácio de louça vermelha
Sobre um trono de azul japonês.

Tem a cútis mais fina e brilhante
Que as bandejas de cobre luzido;
Uns olhinhos de amêndoa, voltados,
Um nariz pequenino e torcido;

Tem uns pés...oh! Oh que pés, Santo Deus!
Mais mimosos que uns pés de criança,
Uma trança de seda e tão longa
Que a barriga das pernas alcança;

Não és tú quem eu amo, nem Laura,
Nem Mercedes, nem Lúcia, já vês;
A mulher que minh'alma idolatra,
É princesa do império chinês!

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