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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Parêntese


Hoje, leitores, abro mão de meu café filosófico e entro, humildemente, no mundo sonoro, ouvintes. Quero apenas deixar o meu agradecimento em nota para um dos maiores cantores e compositores da música sertaneja raiz brasileira, o saudoso José Ramiro Sobrinho, o Pena Branca. Desde já, pode ser notada a lacuna que a originalidade sertaneja apresenta, senão cultuada mas sim modificada, abrindo um infeliz parêntese na acústica e inverossímil raiz sertaneja.

Pena Branca nascido no interior de Goiás em 1939, mudou-se para Uberlândia, interior de Minas Gerais, juntamente com seus pais e seus oito irmãos (um deles era Ranulfo Ramiro da Silva, o Xavantinho). Na idade de 12 anos, José Ramiro perdeu o seu pai e viu-se obrigado a enfrentar a lida dura do trabalho. Assim, começaram a trabalhar nas lavouras de café os irmãos e de lá aprenderam a manusear a querida viola caipira, autodidatas. Em 1958, José Ramiro e Ranulfo Ramiro se apresentaram em um programa da rádio Educadora em Uberlândia pela primeira vez. Daí começaram a dura carreira de cantores iniciantes para sair do anonimato, contudo realizando apresentações gratuitas para reconhecerem o talento de ambos.
Dez anos mais tarde, José Ramiro e Ranulfo Ramiro vão a São Paulo tentar a sorte grande. Iniciam os seus trabalhos em clubes de música sertaneja de raiz e lá conhecem excelentes duplas tais como Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico. Em 1970, José Ramiro e Ranulfo Ramiro gravam o primeiro trabalho artístico, ''Saudade'', já com os nomes de Pena Branca e Xavantinho. O sucesso: questão de tempo. Apresentações conjuntas com Tonico e Tinoco, seus padrinhos, alavancaram a dupla que, logo passou a apresentar-se sozinhos.

O grande trunfo de Pena Branca e Xavantinho era o primeiro LP, ''Velha Morada'', veiculada na televisão e nas rádios, com boa repercussão nos anos 80. A mescla de estilos musicais marcou o único trabalho de Pena Branca e Xavantinho que permitiu outro som, sem somente viola; foi o chamado ''Cio da Terra'', gravado com Milton Nascimento e notório por render muitas cópias. A dupla ganhou cinco prêmios Sharp, na época importantíssimo para o reconhecimento da música sertaneja raiz.

''Mas o destino cruel e traiçoeiro, um a morte não levou'', já diziam Milionário e José Rico; fora a morte de Xavantinho, em 1999, que rompeu a dupla e entristeceu o cenário sertanejo. Sobretudo, Pena Branca relevou a morte do irmão e seguiu carreira solo, compondo e cantando sempre com alegria. No ano de 2001, Pena Branca foi congratulado com o Grammy Latino de Melhor Disco Sertanejo e no ano seguinte, lançou seu segundo trabalho solo, ''Pena Branca Canta Xavantinho''. Há de se mencionar que Pena Branca recusou ofertas de gravadoras pela razão de não mudar o seu estilo musical, mediante tal proposta (fato honrável de um homem originalmente sertanejo).

Infelizmente, onze anos mais tarde, falece nosso querido Pena Branca, vítima de infarto, aos 70 anos. Um exemplo aos cantores que dizem honrar a farda sertaneja mas desrespeitam àqueles donos potenciais da viola caipira tocada com maestria pelo saudoso José Ramiro.Em tom de pesar, resta a esperança de ouvi-lo compor nos céus e fica aqui, nosso apreço, por um daqueles que nos fez viajar com seus acordes harmoniosos e sua voz inabalável. Que seja eterno: '' Um abraço do Pena Branca, e outro aqui do Xavantinho''.

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